Passa flor
passa folha
passa caderno
passa dia da vida
passa noite do sono.
Esta é a história
dos dias que passam
e que escrevem nas folhas do caderno
o floreio dos instantes da vida com sono e sem sonho,
grafando as lembranças do presente,
que mal existe e já é passado,
e deixando o futuro,
que quando chega acaba,
a ver navios,
pois é o que não se nota.
02XI2000
Carlos Felipe
(06/06/1949 27/04/2008)
Monday, April 28, 2008
Penso muito
penso muito.
se ligasse fios à minha cabeça,
acenderia todas as luzes de minha casa,
o som, a televisão, o microondas,
a luz da rua,
o chuveiro.
e sob a água quente,
cabeça quente,
coração frio,
penso
e não sei o que faço.
não sei se já lavei a cabeça,
para saber da barba,
passo a mão pelo rosto,
e o resto?
por via das dúvidas,
lavo-me,
talvez outra vez.
talvez e vez rima com fez.
e eu só penso.
04XII2000
Carlos Felipe
(06/06/1949 - 27/04/2008)
se ligasse fios à minha cabeça,
acenderia todas as luzes de minha casa,
o som, a televisão, o microondas,
a luz da rua,
o chuveiro.
e sob a água quente,
cabeça quente,
coração frio,
penso
e não sei o que faço.
não sei se já lavei a cabeça,
para saber da barba,
passo a mão pelo rosto,
e o resto?
por via das dúvidas,
lavo-me,
talvez outra vez.
talvez e vez rima com fez.
e eu só penso.
04XII2000
Carlos Felipe
(06/06/1949 - 27/04/2008)
Tanta luz, tanta cama
Neste dia de tanta luz
e pássaros a gorjear
(que aqui não gorjeiam como lá),
jazo eu,
se é assim que se diz,
nesta cama deitado, imóvel
(ela, a cama imóvel e deitada também,
pois cama; uma vez que se deita,
nunca se levanta).
Cruzo as mãos sobre o peito
e penso nas costuras
que seguram a carne e mantêm dentro
o que fora seria triste figura.
E se aquele Deus
que me deu meia maçã,
me visse neste estado, pensaria,
e não há porque duvidar,
que não deveria dar o que deu
a quem não sabe ter o que recebeu.
Penso no incômodo inerte,
insignificante inutilidade,
que para prazer da carne pouco serve,
apenas líquido verte...
Vejo os pés que ainda serventia guardam
de manter, alto e distante,
o pensar,
aquilo que ainda me serve quando assim o deseja,
porque, no mais das vezes
põe-se a correr
sabe-se lá por onde...
15XII2000
Carlos Felipe
(06/06/1949 - 27/04/2008)
e pássaros a gorjear
(que aqui não gorjeiam como lá),
jazo eu,
se é assim que se diz,
nesta cama deitado, imóvel
(ela, a cama imóvel e deitada também,
pois cama; uma vez que se deita,
nunca se levanta).
Cruzo as mãos sobre o peito
e penso nas costuras
que seguram a carne e mantêm dentro
o que fora seria triste figura.
E se aquele Deus
que me deu meia maçã,
me visse neste estado, pensaria,
e não há porque duvidar,
que não deveria dar o que deu
a quem não sabe ter o que recebeu.
Penso no incômodo inerte,
insignificante inutilidade,
que para prazer da carne pouco serve,
apenas líquido verte...
Vejo os pés que ainda serventia guardam
de manter, alto e distante,
o pensar,
aquilo que ainda me serve quando assim o deseja,
porque, no mais das vezes
põe-se a correr
sabe-se lá por onde...
15XII2000
Carlos Felipe
(06/06/1949 - 27/04/2008)
E Deus criou o homem
Depois de dias e dias
Fazendo árvores e flores e bichos
E tudo quanto mais há no universo,
Deus deu volta aos olhos pela oficina,
Entediado,
E atendendo a seu espírito ecológico
Resolveu reciclar o que por lá restara
E não havia dado conserto.
Tomou de quatro membros,
Um tronco,
Uma cabeça,
Cobriu-os com uma pele de segunda
(como disse, só havia restos)
e olhou para esta obra,um tanto quanto desolado,
e deu-se por mais ou menos satisfeito.
Chamou-a de homem.
Esta foi a primeira ação reciclatória
De que se tem notícia.
Deus pendurou o homem a um prego,
Já que ele insistia em se esparramar pelo chão,
E pensou que precisava de alguma coisa
Para fazer com que o homem,
Pelo menos,
Pudesse manter-se em pé.
Remexeu as gavetas
E encontrou um cérebro,
Refugado por demasiado complicado,
E colocou-o no espaço vazio
Da cabeça do homem.
De imediato,
Sua última obra levantou-se
Deu uns pulinhos,
Andou de um lado para o outro,
Tagarelou uma serie de bobagens,
Sentiu frio,
Reclamou que estava com fome
E emburrou,
Encostado a um canto,
Onde deu sua primeira mijada.
Deus começou a ter dúvidas
Se teria valido a pena aquele trabalho.
Algumas horas depois,
O homem,
Aborrecido de estar pelos cantos
Sem ter o que fazer,
Aproximou-se de Deus,
Que contemplava embevecido suas outras criações,
Reclamou que aquilo era uma chatice,
Que não era vida que se levasse,
Que os pés doíam,
Que não tinha onde se sentar,
Que o céu era um porre
E etecétera, etecétera e tal.
O Criador,
Cansado de ouvir tanta rabugice,
Arrancou do homem uma costela
E milagrou-a em mulher.
- Que se entendessem os dois e me deixem em paz, pensou o Senhor
(o tratamento "Senhor" ainda não existia nessa época;
foi inventado por um descendente do homem,
algum tempo depois,
ao dirigir-se a alguém que tinha mais dinheiro).
Hoje Deus olha lá de cima a sua obra.
Não sei o que pensa dela.
Imagino que pense nos prós e nos contras
Do que fez.
16VIII2002
Carlos Felipe
(06/06/1949 - 27/04/2008)
Fazendo árvores e flores e bichos
E tudo quanto mais há no universo,
Deus deu volta aos olhos pela oficina,
Entediado,
E atendendo a seu espírito ecológico
Resolveu reciclar o que por lá restara
E não havia dado conserto.
Tomou de quatro membros,
Um tronco,
Uma cabeça,
Cobriu-os com uma pele de segunda
(como disse, só havia restos)
e olhou para esta obra,um tanto quanto desolado,
e deu-se por mais ou menos satisfeito.
Chamou-a de homem.
Esta foi a primeira ação reciclatória
De que se tem notícia.
Deus pendurou o homem a um prego,
Já que ele insistia em se esparramar pelo chão,
E pensou que precisava de alguma coisa
Para fazer com que o homem,
Pelo menos,
Pudesse manter-se em pé.
Remexeu as gavetas
E encontrou um cérebro,
Refugado por demasiado complicado,
E colocou-o no espaço vazio
Da cabeça do homem.
De imediato,
Sua última obra levantou-se
Deu uns pulinhos,
Andou de um lado para o outro,
Tagarelou uma serie de bobagens,
Sentiu frio,
Reclamou que estava com fome
E emburrou,
Encostado a um canto,
Onde deu sua primeira mijada.
Deus começou a ter dúvidas
Se teria valido a pena aquele trabalho.
Algumas horas depois,
O homem,
Aborrecido de estar pelos cantos
Sem ter o que fazer,
Aproximou-se de Deus,
Que contemplava embevecido suas outras criações,
Reclamou que aquilo era uma chatice,
Que não era vida que se levasse,
Que os pés doíam,
Que não tinha onde se sentar,
Que o céu era um porre
E etecétera, etecétera e tal.
O Criador,
Cansado de ouvir tanta rabugice,
Arrancou do homem uma costela
E milagrou-a em mulher.
- Que se entendessem os dois e me deixem em paz, pensou o Senhor
(o tratamento "Senhor" ainda não existia nessa época;
foi inventado por um descendente do homem,
algum tempo depois,
ao dirigir-se a alguém que tinha mais dinheiro).
Hoje Deus olha lá de cima a sua obra.
Não sei o que pensa dela.
Imagino que pense nos prós e nos contras
Do que fez.
16VIII2002
Carlos Felipe
(06/06/1949 - 27/04/2008)
Movo-me
Movo-me pela fatalidade.
É por onde minha rua anda.
Desminto o que fazia de conta
Que acreditava,
E aceito como certo
A direção do tempo.
A única certeza de mudança
São os cabelos que caem,
As carnes que se dobram,
Os rios que nascem e correm pela face,
Os ossos que caminham para o pó.
É o que posso e o a que estou destinado.
E aconteçam as coisas
Que as espero de pé
(ou sentado, se houver conforto),
Com a calma nervosa
De quem aguarda,
Entre os fumos da estação,
Em meio aos carregadores suados,
Aquele trem que não tem horário.
Antes do Horror do julgamento
Olho pela janela do meu quarto
E procuro um derradeiro vento de esperança
Em um mundo que se consome.
Resta o confirmar
Que a vida não é
Um mar de almirante,
Não há lugar para Vasco da Gama,
Não se espera Dom Sebastião
E o Cabo não é da esperança.
O monstro não pergunta,
Engole.
28XI2002
Carlos Felipe
(06/06/1949 - 27/04/2008)
É por onde minha rua anda.
Desminto o que fazia de conta
Que acreditava,
E aceito como certo
A direção do tempo.
A única certeza de mudança
São os cabelos que caem,
As carnes que se dobram,
Os rios que nascem e correm pela face,
Os ossos que caminham para o pó.
É o que posso e o a que estou destinado.
E aconteçam as coisas
Que as espero de pé
(ou sentado, se houver conforto),
Com a calma nervosa
De quem aguarda,
Entre os fumos da estação,
Em meio aos carregadores suados,
Aquele trem que não tem horário.
Antes do Horror do julgamento
Olho pela janela do meu quarto
E procuro um derradeiro vento de esperança
Em um mundo que se consome.
Resta o confirmar
Que a vida não é
Um mar de almirante,
Não há lugar para Vasco da Gama,
Não se espera Dom Sebastião
E o Cabo não é da esperança.
O monstro não pergunta,
Engole.
28XI2002
Carlos Felipe
(06/06/1949 - 27/04/2008)
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